Em tempos de incerteza econômica e avanços regulatórios no Brasil, a intersecção entre blockchain, stablecoins e finanças tradicionais nunca foi tão crítica. Em uma entrevista reveladora ao canal Bitcoin Block, Rocelo Lopes, fundador da SmartPay e da carteira Truter, abordou temas centrais como IOF sobre stablecoins, uso real de carteiras digitais e os próximos passos da descentralização financeira no país.
O IOF como ameaça — ou oportunidade?
Durante a entrevista, Rocelo trouxe à tona uma proposta controversa: a aplicação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre transações com stablecoins. A medida, proposta pelo ministro Fernando Haddad, visa tributar operações com USDT, o que poderia impactar drasticamente o mercado cripto nacional.
Lopes, com sua visão prática, não descartou completamente o IOF — ele sugere uma taxa simbólica de 0,20% para dar segurança jurídica ao setor. No entanto, duvida da capacidade técnica do governo em fiscalizar esse tipo de operação descentralizada. A crítica é clara: o Estado brasileiro não está preparado para lidar com ativos digitais sem distorcer o mercado.
Stablecoins: a espinha dorsal do cripto brasileiro
Hoje, 90% das transações cripto no Brasil são feitas via stablecoins, em especial o USDT da Tether. Segundo Rocelo, a liquidez global e as funcionalidades avançadas de exchanges como a Bitfinex tornam o USDT muito mais prático do que operar com corretoras locais. E mais: as exchanges nacionais ainda estão atrasadas em termos de inovação e usabilidade.
A criatividade brasileira contra o IOF
O brasileiro, como sempre, busca alternativas para escapar da tributação. Lopes explica que muitos utilizam a Truter para converter Pix em USDT, enviar para fora do país e liquidar sem passar por câmbio — e, portanto, sem pagar IOF. Ele alerta, contudo, que a tentativa de burlar o IOF por meio de fundos de investimento pode configurar evasão fiscal, especialmente se for interpretada como substituição de contratos de câmbio.
Como a Truter virou alternativa à opressão fiscal
Curiosamente, a ameaça de IOF impulsionou o crescimento da Truter. A carteira não cobra IOF porque o modelo não envolve troca formal de moeda. Isso gerou uma onda de novos usuários, em busca de autonomia financeira. Apesar disso, Lopes critica a política brasileira por dificultar a vida de startups locais, que competem com soluções internacionais livres de regulamentações sufocantes.
Dolarização como proteção ao cidadão comum
Segundo Rocelo, proteger o patrimônio hoje exige ação direta: ou você guarda valor em Bitcoin e stablecoins como USDT, ou vê seu poder de compra ser corroído pela inflação do real. Com a Truter, o usuário tem custódia própria, o que elimina a necessidade de intermediários — algo vital em tempos de instabilidade monetária.
A guerra das stablecoins está só começando
Embora a Tether ainda domine o cenário latino-americano, gigantes como Goldman Sachs e JP Morgan estão entrando no jogo com stablecoins próprias. Lopes destaca a diferença entre lastro e indexação: o USDT é lastreado em títulos do Tesouro dos EUA, enquanto a Virtual, stablecoin da Truter, é indexada ao real, mas tem lastro em ouro e USDT — combinação que promete estabilidade e liquidez.
Blockchain ainda precisa evoluir — e muito
Privacidade segue como o calcanhar de Aquiles das blockchains públicas. Rocelo cita a Liquid como exceção, por permitir transações confidenciais com USDT, mas afirma que nenhuma rede hoje atende completamente as exigências do sistema financeiro tradicional, sobretudo no que diz respeito a microtransações e privacidade em larga escala.
Cartão Visa: integração blockchain em tempo real
Uma das inovações mais esperadas da Truter é o cartão Visa virtual não custodial. Ele consulta o saldo do usuário diretamente na blockchain no momento da transação, eliminando a necessidade de saldo pré-carregado. Isso significa mais segurança, pois o cartão fica com saldo zero até a aprovação manual do dono. Um modelo inédito no Brasil — e com potencial global.
Bitcoin: o porto seguro digital
Apesar do foco em stablecoins, Rocelo não deixa dúvidas: o Bitcoin é a verdadeira reserva de valor. Diferente do USDT, que pode ser bloqueado por uma empresa, o BTC é incensurável e resistente à autoridade central. “Se você quer segurança total, é BTC. Se quer usabilidade diária, use USDT”, resume ele.
Comunidade em destaque na Blockchain Conference
A Truter também marcará presença na Brasil Blockchain Conference, em outubro. Além de apresentar sua nova interface, a empresa vai sortear 1.000 USDT entre os usuários que tiverem a carteira instalada. Um gesto claro de que a adoção precisa de incentivos reais — e engajamento comunitário.
Conclusão
A entrevista de Rocelo Lopes revela que o futuro financeiro está sendo moldado fora dos bancos e fora do controle estatal. Stablecoins, carteiras não custodiais e soluções como a Truter mostram que o poder está voltando às mãos do usuário. Mas para isso, será preciso educação financeira, coragem regulatória e inovação constante.
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