Escrito pela Ana de Mattos, Analista Técnica e Trader Parceira da Ripio, uma das maiores plataformas de criptoativos da América Latina.
Em setembro, o mercado cripto foi guiado por duas narrativas centrais: a ascensão das altcoins e o impacto da política monetária dos EUA.
O destaque foi a rotação de capital: fluxos migraram do Bitcoin para altcoins, levando o índice Altcoin Season a um recorde de 80%. Este indicador mede o desempenho das 50 principais criptos além do BTC. Nesse mesmo período, a dominância do Bitcoin caiu para 56,7%.
Para o investidor, entender essa dinâmica é crucial. O movimento não sinaliza uma substituição, mas sim uma diversificação interna, onde diferentes teses de investimento ganham tração. Quando o Altcoin Season supera 75%, historicamente, é sinal de maior apetite por risco.
E setembro confirmou isso no desempenho individual das altcoins: SOL avançou 30% no mês. BNB rompeu US$ 1.000 e marcou novas máximas. ETH se manteve acima de US$ 4.000 na maior parte do mês, absorvendo realizações pontuais.
No caso da Ethereum, o desempenho está acima da média: o interesse institucional, a expectativa por ETFs à vista nos EUA e o avanço do staking como renda passiva levaram o preço a novas máximas. Em 24 de agosto, a criptomoeda tocou nos US$ 4.956 pela primeira vez.
Apesar da euforia com as altcoins, a relevância estratégica do Bitcoin segue intacta, sustentada por uma tese cada vez mais institucional. Em setembro, os ETFs de Bitcoin receberam entradas líquidas de US$ 2,57 bilhões, e o capital de longo prazo continua o considerando como reserva de valor primária. A projeção é que o BTC pode chegar a US$ 140 mil até o fim do ano.
A performance das alts e do Bitcoin durante o mês levantou uma questão sobre estarmos, de fato, vivendo o início de uma altseason – ou se foi apenas uma rotação pontual. Um catalisador ajuda a explicar melhor essa dinâmica: a virada na política monetária do banco central dos EUA, principal evento macro do mês, direcionou fluxo tanto para a inovação das altcoins quanto para a solidez do Bitcoin.
Macroeconomia:
Em 17 de setembro, aconteceu o movimento que o investidor cripto esperava: o Fed cortou a taxa básica em 0,25 p.p., o primeiro corte desde 2024. Mais relevante que o corte em si foi a sinalização de possíveis dois cortes até o fim do ano. A leitura pró-risco impulsionou o S&P500 e Nasdaq e melhorou o apetite global. Política monetária segue sendo um vetor central para o desempenho de ativos de risco.
O ponto-chave esteve na justificativa do Fed: o corte não decorreu de uma vitória sobre a inflação (o núcleo do PCE seguia em 2,9%), mas de sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho. Essa mudança de foco, da inflação para o emprego, marca uma virada estratégica e, pela primeira vez em mais de 30 anos, o Fed cortou juros com a inflação núcleo ainda bem acima da meta.
No entanto, a relação entre cortes de juros e o preço do Bitcoin é mais complexa do que parece. Em 2019, prevaleceu o padrão “compre no boato, venda no fato”, com queda após os cortes. Em 2024, a alta coincidiu com fatores de grande impacto (como as eleições nos EUA), dificultando isolar o efeito da política monetária.
Estudos quantitativos mostram correlação fraca e instável entre expectativas de cortes e o preço, com coeficientes flutuando sem uma tendência clara. A reação do mercado ao anúncio de setembro confirmou: depois do impulso inicial, houve realização de lucros, e do dia 18 ao dia 26, o valor do mercado cripto encolheu cerca de US$ 410 bilhões.
Essa divergência entre Wall Street comemorando liquidez global enquanto o mercado cripto vendia indica um mercado mais maduro, já operando o “compre o boato, venda o fato”, uma dinâmica que antes era exclusiva das finanças tradicionais.
O “venda no fato” também confirma um ponto: a política do Fed pode acionar volatilidade de curto prazo, mas a solidez de longo prazo está sendo construída por dois motores paralelos de adoção global, não apenas por reações momentâneas às declarações de Jerome Powell.
Adoção Global
A expansão do mercado de criptoativos está sendo impulsionada por duas frentes de adoção, distintas, mas complementares. De um lado, a adoção “de base”, que usa cripto para resolver problemas do dia a dia. Do outro, a crescente institucionalização, guiada por Wall Street e por maior clareza regulatória.
Segundo o 2025 Global Adoption Index, da Chainalysis, o Brasil despontou como protagonista e saltou para o 5º lugar no ranking. O país agora está entre os ecossistemas mais ativos do mundo.
Esse movimento é parte de uma tendência maior: a região da Ásia-Pacífico (APAC) cresceu 69% em um ano e a América Latina, 63%, indicando que a adoção por utilidade se concentra nos mercados emergentes.
No Brasil, os impulsionadores são a necessidade prática e a alta maturidade digital. O uso de stablecoins (USDT e USDC) para proteção cambial e remessas é amplo, e a familiaridade com pagamentos instantâneos via Pix cria um cenário favorável para integrar cripto ao dia a dia.
Os números falam por si: em um único dia de setembro, o Pix registrou 290 milhões de transações e movimentou quase R$ 165 bilhões, sinalizando um mercado pronto para novas camadas de inovação financeira.
Paralelamente à adoção por utilidade, o capital institucional avança de forma estrutural no mercado cripto. Bitcoin e outras criptomoedas deixaram de ser ativos de nicho e passaram a compor uma classe de ativos estratégica nos maiores portfólios do mundo.
Nos EUA, o regulador deu um passo decisivo. No dia 17, a SEC aprovou regras de listagem genérica para ETFs de cripto na NYSE, Nasdaq e Cboe, encurtando o prazo de aprovação de 240 para cerca de 75 dias. A medida abre espaço para uma nova leva de produtos já no 4º tri e acelera a institucionalização que bancos como o Morgan Stanley mapeiam para suas plataformas.
Outro sinal concreto: a participação institucional na posse de Bitcoin saltou de menos de 1% em 2014 para 19,8% em setembro de 2025. Essa mudança na base de proprietários impacta diretamente a volatilidade e os ciclos do ativo, e coloca em xeque a validade de padrões históricos do mercado.
O setor vive uma fase de transição. Padrões como o ciclo de 4 anos são pressionados pela entrada de novos participantes, e a mudança exige uma revisão de estratégia para navegar em um mercado mais complexo.
O padrão de altas e baixas ligado aos halvings está em debate. A dúvida é se ele se repetirá com a mesma força. Com as instituições detendo quase 20% do Bitcoin, o capital de longo prazo e estratégias de acumulação anticíclicas tendem a amortecer oscilações e reduzir a volatilidade. Isso acaba tornando o ciclo potencialmente mais estável e prolongado.
Ao mesmo tempo, a maturação regulatória conquistada nos últimos anos vem reconfigurando o mercado. A incerteza (que por muito tempo foi o maior risco do setor) cede lugar para regras mais claras e previsíveis.
No Brasil, a Lei 14.478/2022 e a MP 1.303/2025 avançam na definição de regras para prestação de serviços e tributação. Nos EUA, a aprovação de ETFs eleva a legitimidade dos ativos. Em Hong Kong, entrou em vigor um regime para stablecoins. Na Europa, o MiCA se consolida.
Essas mudanças aumentam as exigências de conformidade, mas é condição fundamental para o crescimento sustentável e para a integração com o sistema financeiro global.
Conclusão
Setembro de 2025 fecha com um mercado em evolução, cada vez menos preso aos padrões iniciais e em processo de integração mais ampla com a economia global.
Para outubro, vale o básico bem feito: priorize aportes fracionados (DCA), faça rebalanceamentos para capturar a tendência com menos estresse, mantenha caixa para aproveitar correções e defina de antemão como agir ao longo do mês para não improvisar no dia.
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