O noticiário quase sempre está recheado de termos econômicos, mas também de expressões que mesmo comuns, são desconhecidas por boa parte dos brasileiros. A seguir, dois professores da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) explicam o que é a Taxa Selic, Inflação e a variação cambial do dólar.
TAXA SELIC E INFLAÇÃO
A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, é fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil. A Taxa Selic é utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação, (aumento geral nos preços de bens e serviços em uma economia), e influencia todas as outras taxas de juros do país, como as cobradas em empréstimos. A partir dela, as instituições financeiras definem quanto vão cobrar por empréstimos às pessoas e às empresas.
O Brasil tem a maior taxa de juros reais do mundo, segundo ranking elaborado pela MoneYou e Infinity Asset Management. Nosso País figura em primeiro lugar na lista, com uma taxa de 7,29%, seguido do México, com 6,13%, e da Colômbia, com 5,13%.
Segundo o professor da FECAP, Ahmed El Khatib, os juros altos são uma arma usada por governos para combater a inflação, mas há efeitos colaterais: eles atrapalham o crescimento do país. Além disso, é a principal forma e a mais rápida do governo impactar a economia, uma vez que ela impacta diretamente os mais diversos setores da economia.
“Em um cenário de juros altos, as empresas investem menos, porque custa tomar empréstimos para produção. Isso aumenta o desemprego e piora o consumo. As empresas vendem menos, e então um ciclo negativo se instala (quanto menos vende, menos emprego gera). Essa situação deixa a economia com menos força, o que afeta o PIB (Produto Interno Bruto)”, explica.
Com a taxa Selic baixa, temos uma redução do tamanho da dívida do governo. Quase 40% da dívida total do governo é corrigida pela Selic. Com juros mais baixos, o governo paga menos juros e gasta menos. Por fim, juros mais baixos podem (não é regra) representar prestações do crediário mais suaves para o consumidor. Isso favorece o consumo, pois, ao venderem mais, as empresas produzem mais e, para produzir mais, contratam mais mão de obra e, dessa forma, a economia fica mais aquecida.
DÓLAR
O preço do dólar é expresso por meio da taxa de câmbio, que nada mais é do que a taxa de troca entre duas moedas diferentes. Quem oferta a moeda estrangeira são as instituições que trazem o dinheiro para o País. Pode ser o investidor, o turista, ou o exportador brasileiro que vendeu lá fora e está recebendo em dólar: todos os atores econômicos que têm recebimentos no exterior e trazem a moeda para cá.
Segundo a professora da FECAP, Nadja Heiderich, nós usamos o dólar como principal moeda para transações com o exterior. O mercado cambial é um mercado como outro qualquer, onde há a oferta e a demanda. Pela união entre oferta e demanda, a gente tem o valor dessa moeda, que é expresso pela taxa de câmbio.
“Eles estão vindo para o Brasil e precisam trocar essa moeda estrangeira. Quem demanda dólar são todas as pessoas que têm obrigações no exterior que precisam trocar reais por dólar para tirar o recurso daqui: uma pessoa que precisa pagar um empréstimo, o importador que precisa pagar em moeda estrangeira, ou o investidor que vai tirar recursos do País”.
E é pelo movimento entre oferta e demanda que temos o valor da moeda. Quanto mais pessoas precisam de moeda estrangeira e sai uma notícia (como medidas econômicas ou crises) que faz os investidores tirarem dinheiro do Brasil por medo do risco de perder investimentos, naturalmente a taxa de câmbio sobe. Por outro lado, se há fluxo mais constante de entrada de dólar no País, a taxa de câmbio baixa.
O valor da moeda americana tem impacto diretamente sobre produtos importados. Outro aspecto é que o dólar aumenta o custo de serviços e da produção de empresas que dependem de insumos importados, afetando toda a cadeia econômica.
Por outro lado, exportadores se beneficiam de taxa de câmbio ao vender seus produtos lá fora. No momento da conversão em reais, recebem mais pela produção. O produto nacional fica mais barato e competitivo lá fora, beneficiando certos setores exportadores aqui dentro.
O ‘brasileiro comum’ vai se sentir afetado por conta de produtos importados que serão mais caros. Itens importados pelo Brasil, como a gasolina, também afetam vários preços. Pode haver repique da inflação, conforme o quanto esses itens representam no consumo dos brasileiros.
Quando há um movimento de brusca elevação, o Banco Central age por meio de swaps cambiais, vendendo a moeda estrangeira para tentar conter a elevação dos preços.
“O regime cambial brasileiro é de flutuação suja, onde a taxa de câmbio é definida pelo mercado, mas o Banco Central interfere para evitar valorização ou desvalorização excessiva. Mas é claro que ele precisa fazer isso com cautela, porque, se sinaliza ao mercado que em qualquer elevação ele vai injetar dólar, os especulares podem articular um movimento chamado de ‘ataque especulativo’ para fazer com que o BC queime as reservas internacionais. Não é sempre que o BC entra no circuito, mas busca fazer isso em momentos críticos”, pontua.
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