O caso Christian “Daytwo” Nieves mostra que, em plena era dos hacks sofisticados, a engenharia social ainda é a arma mais eficaz — e perigosa — do submundo cripto.
Uma fraude simples, um prejuízo multimilionário
Enquanto muitos associam golpes no universo cripto a invasões técnicas avançadas, o caso de Christian Nieves, também conhecido como Daytwo, revela uma verdade incômoda: usuários ainda são o elo mais fraco da cadeia.
O golpista nova-iorquino roubou cerca de US$ 4 milhões ao se passar por suporte da Coinbase, enganando pelo menos 30 vítimas ao longo de 2024. Seu método? Simples: engenharia social baseada em dados vazados da própria exchange.
Segundo o investigador cripto ZachXBT, que acompanha o caso há meses, Nieves usou táticas amadoras, mas eficazes: ligações fingindo ser da Coinbase, e-mails forjados e persuasão psicológica para convencer usuários a transferirem seus ativos para carteiras comprometidas.
Cassinos, Rolex e arrogância digital
O que chocou a comunidade foi a forma como Daytwo usou — e perdeu — os fundos. A maior parte dos US$ 4 milhões foi gasta em jogos de azar, bebidas e relógios de luxo, como Rolex. Ele chegou a negar o pagamento de cúmplices porque perdeu o dinheiro em apostas antes de repassá-lo.
Pior ainda: postava nas redes sociais vídeos e fotos ostentando os lucros roubados, deixando um rastro claro para a investigação. ZachXBT revelou que até a carteira de motorista de Nieves foi encontrada, junto com gravações em vídeo detalhando seus métodos de lavagem de dinheiro.
“É raro ver um golpista de engenharia social com tamanha imprudência em esconder sua identidade enquanto ostenta fundos roubados. É um caso fácil para a polícia, mas difícil para vítimas recuperarem algo”, afirmou ZachXBT.
Vazamentos na Coinbase alimentam “superciclo” de golpes
A Coinbase já vinha sofrendo com uma onda de golpes de impersonação. Em novembro de 2023, foram identificados mais de US$ 6,5 milhões em perdas associadas a falsos atendentes da plataforma. Em fevereiro de 2024, esse número saltou para US$ 150 milhões segundo estimativas.
A suspeita é que um grande vazamento de dados de clientes da Coinbase tenha alimentado esses crimes, permitindo que golpistas usem nome completo, e-mail e outras informações para enganar com mais facilidade.
O caso de Nieves é apenas um entre muitos que demonstram como falhas de segurança combinadas com falta de atenção dos usuários criam o cenário perfeito para crimes digitais.
O novo normal: golpes menos técnicos, mais eficazes
Estamos vivendo um superciclo de crimes cripto, e o caso Daytwo é emblemático. Ele não usou exploits de contratos inteligentes, nem violou carteiras com zero-day attacks. O que ele fez foi explorar o fator humano — a ingenuidade, o medo e a urgência emocional.
Em um ecossistema que valoriza a soberania financeira, a responsabilidade individual é o preço da liberdade. Nenhum protocolo pode proteger um usuário que entrega suas chaves privadas a um impostor.
O que aprendemos com isso?
- Nunca confie em suporte que entra em contato com você primeiro.
- Verifique sempre endereços e e-mails.
- Use autenticação de múltiplos fatores (MFA).
- Esteja atento a vazamentos de dados públicos.
- Se algo parecer urgente demais — desconfie.
A era dos golpes “low tech, high gain” está longe de acabar. Enquanto usuários não se educarem e plataformas não adotarem protocolos de verificação mais rígidos, golpistas como Daytwo continuarão prosperando — e queimando milhões em cassinos de Las Vegas.
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