Conhecida como deepfake, a tecnologia que consegue recriar a imagem de uma pessoa com perfeição ganhou recentemente o centro das atenções, gerando curiosidade. O debate voltou aos holofotes após a divulgação do comercial de 70 anos de uma empresa automotiva, que viralizou rapidamente. No filme, a marca promove um dueto entre Elis Regina (cuja imagem foi justamente recriada por inteligência artificial) e a filha Maria Rita.
Com auxílio da Inteligência Artificial (IA), a deepfake alterou digitalmente o vídeo, reproduzindo com grande realismo a fisionomia da cantora em uma dublê. A tecnologia, portanto, utilizou imagens antigas para aprender e capturar detalhadamente as expressões da cantora, sendo capaz de fazer a montagem final com perfeição.
Independentemente do debate ético que envolveu o caso, vale aproveitar o assunto para avaliar um ponto muito importante: a segurança. Afinal, será que fraudadores podem reproduzir a fisionomia de uma pessoa para tentar aplicar golpes que envolvam a validação de uma identidade digital?
“Na verdade, o risco já existe. Infelizmente, já vemos a deepfake ser utilizada para obtenção de ganhos financeiros de forma ilícita. Até agora, essa tecnologia já foi utilizada também para atacar a imagem e a percepção pública de políticos, celebridades e influenciadores digitais”, explica Guilherme Bacellar, pesquisador de Segurança Cibernética e Fraude na Unico, empresa especializada em identidade digital.
De acordo com o especialista, perdas financeiras relacionadas ao uso indevido dessa tecnologia já são uma realidade para bancos e fintechs, além das próprias pessoas que têm suas identidades fraudadas.
“Acredito ser uma questão de tempo para que o problema escale até que a deepfake seja utilizada para influenciar decisões corporativas mais abrangentes, como aquisições, fusões e contratação de fornecedores e pessoal”.
Fogo contra fogo
Apesar dos riscos do uso indevido da tecnologia, Bacellar destaca aplicações também positivas, como poder viver experiências únicas com pessoas e personagens que tanto admiramos recriados por deepfake. Portanto, o problema está na utilização. Por isso, a necessidade do debate e da promoção de ações eficientes para bloquear as fraudes, protegendo titulares dos dados (e das imagens) e evitando danos morais e financeiros.
É importante destacar que essa solução não surgiu hoje. Mas, nos últimos anos, a tecnologia vem evoluindo em um ritmo muito acelerado. De apresentadora de telejornal na Coreia do Sul a vídeos falsos envolvendo celebridades, a deepfake constantemente atrai a atenção do público.
Liveness
Assim como a deepfake se aprimora, as soluções de segurança relacionadas à validação da identidade digital caminham a passos largos. Dessa forma, as empresas investem em soluções de ponta para proteger os dados dos usuários, garantindo tranquilidade nas transações digitais.
“A identidade digital sempre vem amparada por outras tecnologias que devem detectar e prevenir a utilização de falsificação, seja da face ou dos documentos. Dessa forma, apesar do risco, a deepfake traz uma enorme oportunidade de avanço tecnológico e investimentos em capital humano para que possamos deixar todo o processo de identificação e utilização dessas identidades digitais muito mais seguro, robusto e confiável”, diz o pesquisador de Segurança Cibernética e Fraude na Unico.
De uma forma mais específica, o especialista explica que a tecnologia de liveness, ou prova de vida, garante que, durante um processo como o da captura da biometria facial, aquela pessoa é realmente quem diz ser e esta viva e presente naquele momento da transação.
Atuando em um ambiente seguro, a solução coleta as informações, passando pela transmissão e o processamento dos dados e da face. Eficiente, a tecnologia consegue até mesmo acompanhar as mudanças físicas do usuário com o passar do tempo. A utilização de maquiagem também não escapa da análise.
Assim, é possível garantir que a imagem utilizada não foi capturada de uma tela, celular ou, até mesmo, gerada artificialmente. O liveness, portanto, promove a segurança e a confiança desejadas pelos usuários e pelas empresas com relação à utilização da identidade digital.
“Nós adultos sabemos que Elis Regina foi gerada artificialmente, mas os jovens podem não saber. Da mesma forma, os sistemas bancários, de e-commerce, concessão de crédito etc. não sabem se o que estão recebendo são realmente dados e fotos de documentos e face de um dos mais de 200 milhões de cidadãos brasileiros ou se são dados sintéticos e artificiais. Neste ponto, a identidade digital vem justamente para garantir de forma assertiva e segura que são dados e informações reais e que podemos confiar”, salienta Bacellar.
Dicas
A deepfake é uma realidade. Com novas aplicações surgindo a cada dia, o debate é válido tanto por conta da ética e privacidade quanto por parte da segurança dos dados. Cabe também aos usuários adotar alguns cuidados. Um dos principais é utilizar serviços online que realmente se preocupam com essa proteção, com a biometria facial como forma segura de autenticação de sua identidade.
Além disso, é importante manter um controle sobre o compartilhamento dos dados pessoais, pesquisando o que as empresas fazem com essas informações e como garantem segurança e privacidade. Por fim, lembre-se de que o liveness é uma das tecnologias mais assertivas para promover a segurança desejada, com o correto reconhecimento e a proteção da identidade do usuário.
“O mesmo não pode ser dito de vídeos com deepfake recebidos por aplicativos de comunicação ou redes sociais. Nestes casos, é sempre bom desconfiar do que estamos vendo e ouvindo”, finaliza o pesquisador de Segurança Cibernética e Fraude na Unico.
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