Carreiras de bancários, geógrafos, contadores e diversos outros profissionais ganharam novas possibilidades por meio da tecnologia nos últimos anos
A tecnologia é uma importante força propulsora em inúmeros setores do mercado profissional, não apenas criando novas áreas mas também transformando atuações tradicionais a partir de novas ferramentas, serviços e oportunidades. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, em uma pesquisa feita com 55 países, a tecnologia deve ajudar a criar 78 milhões de novos postos de trabalho até 2030, superando em muito o saldo frente a outros empregos que correm o risco de serem substituídos.
Essa transformação ocorre com mais visibilidade em setores diretamente ligados à tecnologia, mas existe também em carreiras em que, muitas vezes, os profissionais não imaginam: da geografia até a moda. Com startups e grandes empresas de tecnologia brasileiras, confira seis exemplos de carreiras que estão sendo transformadas pela inovação:
Geografia e dados
Quando decidiu estudar Geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, Dafne Cavalheiro dos Santos tinha uma ideia completamente diferente de como atuaria na profissão. Hoje, aos 28 anos, ela é analista GIS na Codex, empresa especializada em governança de dados, meio ambiente e mudanças climáticas.
“Jamais imaginaria fazer o que faço atualmente sendo geógrafa. A minha ideia antes de entrar na faculdade, e inclusive durante o curso, era de um trabalho mais voltado a ir a campo, levantar dados, produzir relatórios. Ou seja, algo mais próximo de uma visão clássica sobre o profissional da Geografia”, comenta.
Mas essa visão começou a mudar quatro anos atrás. “Foi quando ingressei na Codex, primeiro como estagiária, e passei a me aproximar do trabalho com tecnologia e dados”, lembra. Atualmente, Dafne atua com governança de dados geoespaciais, com foco em meio ambiente e planejamento urbano. O trabalho envolve o tratamento e governança de dados para democratizar o acesso à informações geoespaciais através de aplicações e plataformas ESRI — tornando a informação acessível para apoiar decisões de gestores públicos.
“Recentemente, também iniciei um mestrado na área de sensoriamento remoto e geoprocessamento”, conta.
Para a geógrafa, o surgimento de novas frentes de atuação para profissões tradicionais é uma tendência. “A tecnologia está, de certa forma, mudando a raiz de algumas carreiras. No meu caso, me levou para um caminho totalmente inesperado. Para fazer o que faço hoje, imaginava que precisaria cursar algo ligado à tecnologia ou computação”, diz.
Bancários autônomos
Trabalhar de onde quiser, com um horário mais flexível que permite conciliar de uma maneira diferente a vida pessoal com a profissional, definir o perfil de clientes que deseja atender e focar nos produtos financeiros que mais interessam. São formas diferentes de atuação para quem se acostumou a horários comerciais e agências de banco e que têm se tornado possíveis graças à tecnologia, com a carreira de bancário autônomo.
Alexandre Guedert tem 42 anos, 20 deles dedicados a uma tradicional instituição financeira brasileira. No fim de 2020, quando deixou o local em que trabalhava, começou a se preparar para tirar novas certificações e tentar um novo emprego na área, em algum banco ou cooperativa no Sul de Santa Catarina, onde sempre atuou. Por meio da internet, encontrou a profissão de bancário autônomo e fez a virada na carreira em 2021.
Guedert começou a trabalhar como bancário autônomo de casa, em formato home office, e hoje tem um escritório próprio onde atende os clientes. Ele atua por meio da Franq, pioneira no Brasil ao oferecer uma plataforma com mais de 50 instituições parceiras e um leque de opções de produtos financeiros superior a 150 serviços. Assim como Guedert, mais de 10 mil profissionais já passaram pela plataforma desde o lançamento no mercado, em 2019.
“É uma profissão muito gratificante, hoje como personal banker eu consigo ter o perfil de clientes que eu gosto, os produtos que eu gosto mais de vender e que meus clientes buscam. Gosto de dar o exemplo do home equity, que em um banco eu poderia oferecer uma opção para o cliente, e hoje tenho um leque com 15 instituições diferentes. Esse modelo permite que eu personalize o atendimento de cada cliente, com foco nele e não nos produtos”.
O futuro do suporte técnico é autônomo
Mesmo no setor de suporte de TI, os modelos de trabalho têm sido impactados pela criação de empresas que inovam ao oferecer mais autonomia, flexibilidade e acesso a oportunidades por meio da tecnologia.
Otávio Alberto Rodrigues tem 38 anos e mais de 15 de experiência na área de suporte de TI, com passagens por empresas como Atento, CPM Braxis, Klabin e Stefanini. Em 2022, após ser desligado de forma inesperada, encontrou na FindUP, scale-up especializada em soluções para demandas de suporte de TI, uma nova oportunidade para continuar exercendo sua profissão com autonomia. “Eu estava precisando de trabalho, e meu amigo falou: ‘faça o cadastro lá que vai te ajudar’. Foi o que eu fiz. Abri meu MEI e comecei a atender.”
Desde então, Otávio passou a atuar exclusivamente com a FindUP, participando de projetos para marcas como Cinemark, Gertec, HapVida, Jequiti e Localiza. Ele realiza serviços de infraestrutura, cabeamento, formatação, solda de equipamentos e redes, e já atendeu chamados em diferentes regiões do estado de São Paulo. “Sou aquele cara que veste a camisa mesmo. Se tem projeto novo, eu estou dentro. Se for no interior, eu vou também. Gosto de ajudar, gosto da rotina, gosto de estar na rua”, afirma.
A FindUP completou 10 anos de mercado em 2025 e já movimentou milhões em pagamentos para profissionais autônomos: só em 2024, foram repassados R$5,7 milhões, com projeção de R$8,7 milhões para este ano — um aumento de 53%. A empresa conta com mais de 19 mil técnicos cadastrados e atua especialmente nos grandes centros do Sudeste, Sul e Nordeste.
Por meio do aplicativo FindUP Técnicos, os profissionais prestam serviço com CNPJ, geralmente MEI, e recebem por chamado concluído, com acréscimos em caso de deslocamento ou horas extras. A scale-up também oferece capacitação contínua com trilhas de conhecimento, treinamentos e certificações por meio da FindUP Academy — uma alternativa concreta para quem busca renda e autonomia no setor de tecnologia.
Estilistas e modelistas na era digital
A transformação digital também está presente no universo da moda. Profissionais como estilistas e modelistas estão entre os mais impactados pela adoção de novas tecnologias no setor. A Audaces, multinacional ítalo-brasileira referência em soluções para a indústria têxtil, tem desempenhado um papel fundamental nesse processo, oferecendo ferramentas que tornam o desenvolvimento de coleções mais ágil, preciso e inovador.
“Com o Audaces Fashion Studio, por exemplo, os estilistas podem simular o caimento de tecidos em um ambiente virtual e digital, aplicar cores, estampas e texturas realistas, e visualizar os modelos com clareza e precisão diretamente na tela do computador. Essa tecnologia reduz a necessidade de peças-piloto e diminui os custos na fase de criação, otimizando o desenvolvimento das coleções. Além disso, a comunicação entre os times de estilo e modelagem torna-se mais clara, e a criação de modelagens em 3D pode ser feita logo após a aprovação no sistema, acelerando significativamente o processo produtivo”, relata Wager Heckert, diretor global de Marketing da Audaces.
O Audaces Sofia, solução de IA da Audaces voltada para o design de moda, utiliza algoritmos inteligentes para garantir que os resultados produzidos sejam únicos e inovadores. Integrado aos programas de criação, ele potencializa o trabalho dos profissionais com diversas aplicações. Entre elas, destaca-se a geração de novas estampas para peças desenvolvidas e a criação de imagens realistas a partir do trabalho do estilista. A ferramenta atua como um apoio estratégico, ampliando as possibilidades do designer e trazendo novas interpretações visuais que estimulam a experimentação e a inovação no desenvolvimento de produtos.
Já as modelistas substituíram as réguas, o papel e o retrabalho por soluções digitais que possibilitam criar moldes de forma rápida e eficiente, com simulações em manequins virtuais que reduzem a necessidade de protótipos físicos. “A digitalização tornou o processo 70% mais rápido do que o trabalho manual. O sistema do Audaces Moldes facilitou o desenvolvimento de moldes complexos com poucos cliques e, além disso, torna a gradação de tamanhos mais fácil e ágil. Um ganho em sustentabilidade é que eliminamos tanto o acúmulo quanto o desperdício de papel”, destaca.
IA integrada ao WhatsApp transforma o CRM e a rotina do vendedor
Desde a popularização CRM, lá pela década de 1990, os vendedores tinham a rotina de visitar clientes, fechar negócios e depois correr para preencher relatórios e atualizar a plataforma de gestão de vendas. A tecnologia evoluiu e está transformando essa profissão. Com o lançamento da Ava, nova assistente virtual com inteligência artificial da Agendor, o vendedor passa a contar com uma aliada que automatiza tarefas operacionais, registra dados em tempo real e se integra ao WhatsApp, uma das principais ferramentas de contato com clientes atualmente.
Dessa forma, o ecossistema de soluções para vendas consultivas da Agendor, resolve um dos principais gargalos enfrentados por gestores comerciais: a baixa adesão das equipes ao CRM. “O problema nunca foi a tecnologia, mas sim a disciplina de registrar os dados. O que a Ava faz é interceptar o canal onde as vendas realmente acontecem — o WhatsApp — e automatizar a coleta de informações relevantes, transformando o CRM em um assistente estratégico”, afirma Júlio Paulillo, CRO da Agendor e idealizador da Ava.
A novidade, que combina inteligência artificial com automações personalizadas para registrar automaticamente informações que antes dependiam da iniciativa do vendedor, também impacta outra profissão: a do gestor de vendas. Com a tecnologia, os executivos passam a ter informações mais confiáveis e atualizadas em tempo real, ganhando tempo para agir de maneira mais estratégica e menos operacional, com foco em resultados.
“A Ava não substitui o vendedor. Ela reduz tarefas burocráticas e fortalece a qualidade dos dados comerciais. Com isso, melhora a previsibilidade das vendas e aumenta a eficiência operacional”, explica Paulillo.
Contabilidade 4.0: como a tecnologia transformou a rotina dos contadores
Outro exemplo de como a tecnologia revolucionou profissões tradicionais é a contabilidade. Se antes o dia a dia dos contadores era repleto de processos manuais e deslocamentos, hoje a digitalização alterou a forma de atuar — facilitando processos, mas exigindo novas habilidades e ferramentas.
Uma pesquisa da Serasa Experian aponta que 74% dos escritórios contábeis afirmam ter investido em tecnologias de automação nos últimos dois anos para reduzir tarefas repetitivas e focar em consultoria estratégica.
Entre as mudanças mais significativas na era digital estão o uso da certificação digital e da assinatura digital, que, embora complementares, cumprem funções distintas. A certificação digital funciona como uma identidade eletrônica, permitindo identificar com segurança pessoas físicas ou jurídicas em ambientes virtuais. Já a assinatura digital é o recurso que, com base nessa identidade, permite assinar documentos eletrônicos com validade jurídica, garantindo autenticidade e integridade. Juntas, essas tecnologias viabilizam ações como emitir notas fiscais eletrônicas, acessar e enviar declarações à Receita Federal sem a necessidade de deslocamentos físicos, e realizar transações bancárias digitais com segurança reforçada.
“Desta forma, o certificado digital virou uma ferramenta estratégica para o contador moderno. Ele não apenas garante a segurança das transações, mas também permite que o profissional atue de forma muito mais ágil e integrada aos sistemas digitais do governo e do mercado”, diz Heitor Pires, CEO da Certifica.
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