O primeiro trimestre de 2023 foi um período desafiador para o mercado financeiro, com destaque para as fraudes – como o caso da brasileira Braiscompany -, que resultou em perdas significativas. Na visão de Rafael Izidoro, CEO e fundador da fintech cripto Rispar, é importante analisar que a queda de empresas fraudulentas é um sinal de que o mercado está se tornando mais forte e transparente, o que aumenta a segurança para os investidores.
No cenário internacional, a queda do Silicon Valley Bank gerou preocupações com o contágio na economia global. Felizmente, as autoridades reguladoras tomaram medidas para aumentar a confiança no sistema financeiro, garantindo a estabilidade do mercado. Em contrapartida, o mercado cripto teve uma valorização expressiva, com destaque para o Bitcoin, que subiu mais de 60%, mostrando que os investidores estão buscando refúgio nos ativos digitais.
No Brasil, o Real Digital, moeda eletrônica emitida pelo Banco Central, é um dos pontos-chave para o mercado cripto.
“Previsto para ser lançado em 2024, deve ter uma aceitação ainda mais rápida do que o sistema de pagamentos instantâneo Pix, que já é o meio de pagamento mais usado pelos brasileiros. Isso mostra que o país está atuando como protagonista no mercado cripto”, pontua Izidoro.
Para o executivo, apesar do cenário de incerteza, a expectativa é positiva para o restante do ano, com a possibilidade de novas altas históricas do Bitcoin e do mercado cripto como um todo.
Confira a seguir a análise de alguns especialistas sobre as expectativas para o segundo trimestre no mercado de criptoativos.
Thiago Cesar, CEO da Transfero
O executivo acredita que, mesmo com essa turbulência do setor tradicional marcado por uma quebra de confiança no sistema financeiro tradicional, principalmente nos Estados Unidos, as criptomoedas reagiram positivamente.
“Enquanto os bancos quebraram, o bitcoin continuava em alta, chegando a US$ 28 mil, o que revela uma confiança de boa parte dos investidores no setor cripto. Tal confiança se dá pelo fato de o bitcoin ser um ativo anticíclico, descorrelacionado ao mercado financeiro tradicional, e que pode servir como uma reserva de valor em momentos de turbulência e de crise. Em contrapartida, os desafios no mercado cripto viram, principalmente no que diz respeito à regulação do setor”, explica.
De acordo com Cesar, reguladores americanos estão atentos às empresas de cripto, e essa movimentação tende a impactar negativamente na adequação das empresas, diante de um cenário regulatório mais rígido.
“Acreditamos que toda a turbulência que estamos vendo é superável. As empresas que atuam hoje no mercado estão em um nível de maturidade suficiente para se adequarem a quaisquer requisitos regulatórios que possam ser determinados”, acrescenta.
Para o segundo trimestre, o CEO acredita em um cenário positivo para as criptomoedas, mesmo com as incertezas que irão perpetuar no sistema financeiro tradicional.
“No ponto de vista de preço, as criptos continuarão em alta, já que ainda são muito utilizadas como um importante ativo de segurança, o qual pode proteger investidores em momentos de crise ou caso haja uma pressão dos reguladores e das instituições tradicionais, principalmente nos Estados Unidos, fazendo com que o mercado se estremeça”. Afirma ele.
João Canhada, fundador da Foxbit
Destacando o cenário macroeconômico, Canhada pontua:
“O desempenho da moeda norte-americana é um ponto de atenção, pois, geralmente, ela aponta uma correlação inversa ao movimento do Bitcoin (BTC), principal criptomoeda do mercado. Ao mesmo tempo, o aumento de juros e o fortalecimento do dólar empurram os mercados acionário e criptográfico para baixo”.
Além disso, outros fatores contribuíram para um cenário desafiador como a crise bancária dos bancos americanos, regulação de stablecoin, cerco na Binance e a interrupções de blockchains.
Para o próximo trimestre, apesar de toda a turbulência do primeiro trimestre, o Bitcoin parece manter sua saúde intacta. Segundo o executivo, “As taxas de hashes e dificuldade de mineração seguem renovando suas máximas históricas, indicando que os mineradores estão trabalhando a todo vapor”.
Para ele, um Bitcoin forte reflete em todo o setor, já que a criptomoeda de referência é, de fato, uma referência para o mercado.
“Muitas vezes, outros tokens operam para o BTC, como são os casos das stablecoins, utilizadas como base para negociações. Nos derivativos, o Bitcoin também pode ser utilizado como colateral para tradings de margem e alavancagem, assim como no pagamento das taxas de financiamento (funding)”. Afirma Jõao.
Paulo Boghosian, Head de Research do TC Digital Assets
Segundo Boghosian, falar do primeiro trimestre de 2023 é falar sobre a dinâmica de preços do Bitcoin, que foi muito positiva. Mesmo em meio a turbulências, esse foi o período em que a moeda apresentou um dos melhores preços de sua série histórica, com alta de mais de 50% das mínimas. Além disso, houve uma dinâmica interessante no cenário macro com o FED mantendo sua postura contracionista, e o mercado financeiro internacional, principalmente dos bancos, dando sinais de rachaduras.
“O caso do Silicon Valley Bank e uma debandada de americanos de bancos pequenos e médios indo para bancos maiores, com medo de que houvesse algum tipo de crise sistêmica e que levasse a quebra de muitas outras instituições financeiras, principalmente as menos capitalizadas, são exemplos”, pontua.
Ele ainda destaca a questão regulatória ao explicar que muitos estão acusando o governo americano conduzir uma operação destinada a pressionar de todos os lados as empresas cripto e afastar essa indústria do país. Sobre esse tema, o especialista não acredita que venha algum tipo de proibição, mas há um esforço para controlar esse mercado. Por isso, aponta que, para o segundo semestre, é possível que haja novos episódios de processos e de regulações.
A atualização Shanghai Fork do Ethereum, prevista para acontecer em abril, também é um ponto de atenção para Boghosian. Isso porque, desde 2020, muitos investidores estavam depositando moedas para fazer stacking e não podiam resgatá-las. A partir do Shanghai Fork, isso vai ser possível.
“Porém, muitos investidores e analistas estão debatendo e trazendo estimativas sobre quais serão os impactos de força vendedora no mercado. Por isso, no período, é importante olhar como vai se comportar a relação entre o Ethereum e Bitcoin”, finaliza.