No contexto dinâmico da tecnologia blockchain e da sua rápida evolução, a tokenização representa uma força transformadora, que promete remodelar os mercados e redefinir os sistemas tradicionais de propriedade. No entanto, entre as promessas de eficiência e transparência, o caminho para a adoção generalizada da tokenização não está isento de obstáculos. Todos os participantes do mercado financeiro preveem que a oportunidade de tokenização chegue a dezenas de trilhões de dólares. O relatório “Time for Trust” da PwC sobre blockchain revelou que a tecnologia poderia melhorar o PIB global em uma média de USD 1,76 trilhão até 2030. De acordo com economistas da PwC, isso representa um total de 1,4% do PIB global hoje. Embora seja possível observar alguns casos de uso interessantes, estes são uma gota no oceano em comparação com o volume de ativos digitalizados que poderão circular na cadeia nos próximos anos.
“O fato é que existem algumas barreiras que atualmente reduzem a velocidade de sua adoção e impedem a integração perfeita da tokenização a vários setores. Entre essas barreiras estão os problemas persistentes de escalabilidade e interoperabilidade que atrapalham o desenvolvimento das redes blockchain, bem como a necessidade crucial de disseminação generalizada de conhecimento a respeito da tecnologia blockchain. Algo previsível e provavelmente inevitável em uma tecnologia tão recente. Cada uma dessas barreiras apresenta um desafio único a ser enfrentado. Entretanto, à medida que nos aprofundamos nas complexidades dessas dificuldades, é possível descobrir quais são as melhores estratégias e soluções que podem abrir caminho para que a integração da tokenização seja bem-sucedida nos mercados.” Afirma Tiago Piassum, founder da Rivool Finance.
Tiago Piassum, ainda comenta que, um dos principais impedimentos à adoção generalizada da tokenização reside nos desafios de escalabilidade inerentes às redes blockchain. À medida que a demanda por aplicativos descentralizados e ativos tokenizados continua a crescer, as principais plataformas blockchain enfrentam limitações na velocidade de processamento e na sua capacidade de realizar transações. Ele destaca que as criptomoedas conhecidas como Bitcoin e Ethereum são capazes de registrar 7 e 20 transações por segundo, respectivamente, enquanto formas de pagamento tradicionais, tais como, Paypal e Visa, são capazes de registrar 193 e 24.000 transações por segundo, respectivamente.
“Se por um lado, essa limitação deixa evidente as limitações do uso de criptomoedas como meios de pagamento, por outro lado, deixam claro que as redes blockchain terão que acelerar o seu desenvolvimento para que sejam capazes de vir a serem adotadas em mercados em que ocorrem muitas transações. Afinal, uma das principais vantagens da tokenização é a sua capacidade de trazer mais liquidez para mercados até então ilíquidos. Logo, para que essa maior liquidez seja obtida às barreiras ao número de transações precisam ser derrubadas.” Continua ele.
Uma das tecnologias disponíveis é a fornecida pela Polygon. A tecnologia é um protocolo e estrutura para construir e conectar redes blockchain compatíveis com Ethereum. Trata-se de um protocolo que foi projetado para resolver problemas de escalabilidade no blockchain Ethereum, fornecendo uma solução para transações mais rápidas e econômicas.
No entanto, o espeacialista acredita que não é somente as limitações de velocidade e quantidade de operações os únicos gargalos que limitam o potencial da tokenização. Ele comenta que há também um problema de interoperabilidade (capacidade de um sistema de se comunicar de forma transparente com outro sistema). O cenário blockchain é caracterizado por uma dicotomia entre infraestruturas públicas e privadas, cada uma servindo propósitos e públicos distintos. Blockchains públicos, exemplificados por Ethereum e Bitcoin, operam em um modelo descentralizado e sem permissão, garantindo transparência e segurança por meio de uma rede distribuída de nós. Por outro lado, os blockchains privados, frequentemente utilizados pelas empresas, priorizam a privacidade e o acesso restrito entre um conjunto definido de participantes.
“Alcançar a interoperabilidade entre esses diferentes domínios de blockchain é um desafio crítico para a integração perfeita da tokenização. De modo que as soluções para interoperabilidade incluem o desenvolvimento de protocolos cross-chain e camadas de comunicação padronizadas. Estas iniciativas visam estabelecer uma ponte entre blockchains públicas e privadas, permitindo que tokens e dados fluam perfeitamente através de diferentes redes. A Polygon é conhecida por sua interoperabilidade, permitindo integração perfeita com a blockchain da Ethereum. Essa compatibilidade permite, por exemplo, que os desenvolvedores portem seus aplicativos descentralizados (DApps) e contratos inteligentes do Ethereum para o Polygon com relativa facilidade.” Destaca ele.
Tiago salienta, que a interoperabilidade não é apenas um desafio técnico, ela envolve a criação de padrões comuns e esforços colaborativos dentro da comunidade blockchain para garantir que as infraestruturas públicas e privadas possam coexistir harmoniosamente. A falta de protocolos padronizados e de comunicação entre diversas redes blockchain limita a transferência fluida de tokens entre plataformas. Nesse contexto, a incapacidade de diferentes blockchains interagirem perfeitamente restringe o potencial geral da tokenização, fraturando o ecossistema e impedindo a sua integração em redes financeiras e empresariais mais amplas e, desta forma, comprometendo a sua escalabilidade. Assim, por exemplo, os ativos reais tokenizados podem enfrentar desafios de liquidez, especialmente se o mercado secundário para estes tokens não estiver suficientemente desenvolvido. A fraca negociabilidade pode afetar a facilidade de compra ou venda de ativos e, desta maneira, impactando o seu valor.
“Desta maneira, há a necessidade de esforços colaborativos dentro da comunidade blockchain para desenvolver soluções escaláveis que facilitem o movimento eficiente e contínuo de tokens através de várias redes. Embora a competição de mercado seja vital, uma alternativa é que este mercado desenvolva uma liderança que seja capaz de estabelecer um padrão com base no seu diferencial de eficiência com relação às demais opções do mercado. De modo que para progredir na indústria, os participantes do mercado devem lutar pelo consenso e pelo desenvolvimento de uma plataforma comum para cunhar, resgatar e trocar, seja através de um aplicativo superior ou uma plataforma construída em um blockchain de camada zero capaz de interconectar as demais camadas. O caminho oposto, a fragmentação da indústria, com cada empresa tendo a sua infraestrutura fechada e autorizada, certamente dificulta a convergência para um ecossistema de blockchain unificado e valioso.” Continua o especialista.
As complexidades da tokenização exigem um nível de conhecimento a respeito de tecnologia que muitas vezes escapa ao cidadão mediano, criando uma barreira à entrada para uma adoção generalizada. Preencher esta lacuna de conhecimento não é apenas imperativo para promover a confiança, mas é essencial para desbloquear o verdadeiro potencial da tokenização. Iniciativas de educação pública, colaborações da indústria e esforços de comunicação transparentes são componentes cruciais para superar este obstáculo de informação, garantindo que os ganhos com a tokenização seja abraçado por uma comunidade bem-informada e disposta a adotar este novo padrão financeiro.
Tiago relembra que apesar de todas essas barreiras, no ano passado, foi possível assistir a um progresso incrível na superação destes problemas.
De acordo com Colin Butler, global head of institutional capital na Polygon, embora seja fácil mostrar os projetos que não foram concretizados, a verdadeira história da tokenização em 2023 é sobre o trabalho de base que permitirá a próxima onda de resultados tangíveis na cadeia, impulsionados pelo poder dos principais intervenientes financeiros que entram no mercado.
As perspectivas de todos que participam do ecossistema de tokenização é que 2024 será repleto de imensos avanços. Para começar, é possível observar um interesse intenso por parte de fundos de ações que procuram desenvolver novos veículos de tokenização para os seus investidores, e ainda mais, colocando essas ideias em prática às pressas. Esta tendência deverá continuar em 2024, à medida que grandes instituições, incluindo Hamilton Lane e JP Morgan, desenvolvem cada vez mais fundos tokenizados.
“Inevitavelmente, veremos em breve o desenvolvimento de instrumentos ainda mais estruturados, incluindo ativos construídos a partir de novas fontes de receitas, como o crédito privado – o próximo passo lógico para produtos financeiros que são inerentemente digitais e relativamente fáceis de migrar para a blockchain.” Finaliza Tiago.
Isenção de responsabilidade: As opiniões, bem como todas as informações compartilhadas nesta análise de preços ou artigos mencionando projetos, são publicadas de boa fé. Os leitores deverão fazer sua própria pesquisa e diligência. Qualquer ação tomada pelo leitor é prejudicial para sua conta e risco. O Bitcoin Block não será responsável por qualquer perda ou dano direto ou indireto.
Leia também:
Coinbase muda contas USDC para blockchain Ethereum Layer-2
SatoshiDEX: Uma DEX inovadora com venda de tokens em andamento
A redução pela metade do Bitcoin Cash, outro marco para o dinheiro digital