Ao longo da história, a América Latina tem desempenhado um papel central na economia global como exportadora de matérias-primas. Entretanto, hoje, os avanços tecnológicos ao redor do mundo estão começando a apresentar outras demandas para a região, relacionadas ao capital humano e intelectual, colocando-a em destaque na oferta de talentos qualificados.
A consultoria internacional Korn Ferry estima que, em 2030, haverá um déficit de 4,3 milhões de profissionais no setor de TI, dos quais 1,2 milhão estarão nos Estados Unidos. Com a procura crescente por profissionais da área por companhias estadunidenses, a América Latina tem a chance de capitalizar essa demanda por apresentar fatores estratégicos em relação a outras áreas do planeta.
“A América Latina emerge como uma potência significativa no cenário global de TI, com uma oportunidade única de preencher a lacuna de talentos no setor e se estabelecer como um centro de excelência profissional”, comenta Giuliana Corbo, CEO da Nearsure, companhia que conecta profissionais latino-americanos de TI com empresas dos Estados Unidos.
Na região, o setor de TI é um mercado em expansão que atrai investimentos e tem projeção de crescimento estimado em 11% em 2024, de acordo com a empresa de pesquisa e consultoria IDC. Além disso, outros fatores que beneficiam os países latinos na oferta de talentos incluem:
- Recursos humanos qualificados: a região tem uma população jovem e talentosa, com muitos profissionais capacitados em ciência da computação, engenharia de software e outras áreas relacionadas à TI.
- Vantagens competitivas: a América Latina oferece custos competitivos, profissionais com fluência em idiomas e com compatibilidade cultural, além de incentivos fiscais que são atrativos para empresas norte-americanas.
- Posição geográfica: a proximidade com os EUA também se torna um fator decisivo na escolha de talentos latinos em um mercado que atravessa a transição do offshoring para o nearshoring, e privilegia aspectos culturais e geográficos em suas demandas.
- Investimento em infraestrutura e educação: muitos países latino-americanos estão investindo em infraestrutura de tecnologia e em programas de educação em TI para preparar a força de trabalho para as demandas do mercado global. O Brasil é o principal impulsionador desses investimentos, concentrando 62% das empresas latino-americanas que desenvolvem tecnologias para a educação (edtechs) e atraindo mais da metade dos investimentos do setor na última década. O México também é notável, com 11% das startups do setor de tecnologia educacional.
- Inovação e empreendedorismo: a região também está testemunhando um aumento no número de empresas de tecnologia inovadoras, o que contribui para o desenvolvimento de um ecossistema de TI dinâmico. De 2000 para 2023, o número de startups na América Latina aumentou de 558 para 33.489, representando um crescimento de 60 vezes.
“O crescente cenário de inovação e empreendedorismo, aliado à transição do offshoring para o nearshoring no setor, destaca a América Latina como uma escolha estratégica para empresas que buscam suprir suas necessidades de capital humano qualificado. Em relação à China, por exemplo, os países latinos aparecem em vantagem para o mercado estadunidense por conta das questões geográficas e culturais”, avalia Giuliana.
Um estudo realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento em 2022 estima ainda que o nearshoring com a América do Norte acrescentaria US$ 78 bilhões anualmente à economia da América Latina e Caribe.
“Os aspectos favoráveis para a contratação de talentos latino-americanos em companhias estadunidenses são muitos e cabe aos profissionais e às empresas estarem preparados para essa nova dinâmica de mercado. Esse movimento pode beneficiar a economia local e contribuir para um cenário tecnológico mais diversificado e resiliente”, conclui a executiva.
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