Existem semelhanças interessantes entre a programação — seja no blockchain ou não — e as artes em geral: quando feita com qualidade, o resultado final parece tão intuitivo que o olhar destreinado pode achar que é fácil de alcançar, quando na realidade, é fruto de um esforço e planejamento significativos. É justamente por isso que explicar o impacto que arquiteturas consolidadas como a RISC-V, oriundas do desenvolvimento tradicional de hardware, podem ter no mercado de blockchain exige um pouco de contexto.
Antes de tudo, é importante entender o que realmente é a RISC-V (pronuncia-se “risk-five”). Trata-se de um padrão aberto de arquitetura de conjunto de instruções (ISA) para processadores. Em termos simples, define como a CPU de um computador entende e executa instruções — mas, ao contrário de outras ISAs como x86 da Intel ou ARM, a RISC-V é open source e livre para qualquer pessoa usar, projetar e implementar. A RISC-V tem sido cada vez mais utilizada em uma variedade de tecnologias modernas, especialmente onde flexibilidade, baixo consumo de energia e padrões abertos são essenciais. Empresas como Espressif, Alibaba e SiFive já lançaram chips RISC-V que alimentam desde módulos Wi-Fi até dispositivos eletrônicos de consumo, como smartwatches, rastreadores de atividades, automação residencial e sensores industriais — graças ao seu design leve e eficiente em termos energéticos.
No universo blockchain, sabemos que a maioria dos projetos conta com sua própria máquina virtual (o ambiente onde os contratos inteligentes — o motor por trás dos DApps — são desenvolvidos), feitas sob medida, com base em ISAs proprietárias ou modificadas. Isso cria mais atrito nas operações entre blockchains e dificulta a vida dos desenvolvedores, que precisam aprender novas linguagens, especificidades e ferramentas toda vez que querem construir em uma rede diferente.
Para superar essa barreira e tornar o desenvolvimento em blockchain mais acessível por meio da padronização, arquiteturas como a RISC-V são fundamentais. E há sinais de que a rede Ethereum pode estar seguindo nessa direção. Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum, sugeriu recentemente repensar sua máquina virtual para integrá-la à RISC-V. A simplicidade é um dos objetivos aqui, além de ser uma forma de melhorar drasticamente o desempenho e a escalabilidade. E além do desempenho, adotar a RISC-V pode otimizar e preparar o ambiente de execução da Ethereum para o futuro. Ao adotar uma arquitetura aberta e padronizada de máquina virtual, a Ethereum também pode se desvincular das complexidades crescentes da especificação da EVM e alcançar uma lógica de execução mais modular e interpretável.
Inovação sem Disrupção: O Dilema da Ethereum
É crucial entender que essa proposta toca em algo profundamente desejado no espaço blockchain: a possibilidade de consenso sobre procedimentos. Seja em relação à regulamentação de criptomoedas ou ao aumento da interoperabilidade entre redes blockchain e fora delas, cada passo rumo a consensos procedimentais nos aproxima do sonho de um sistema de coordenação unificado, ágil e eficiente.
No entanto, tanto a decisão de mudar a máquina virtual quanto a forma de implementar essa mudança não são simples nem unilaterais. Um dos maiores desafios é aumentar a eficiência, segurança e acessibilidade da rede com o mínimo de impacto sobre os contratos inteligentes e desenvolvedores que já são parte fundamental do sucesso do ecossistema.
Em sua postagem original, Buterin discutiu o caminho menos disruptivo — ou seja, atualizar a máquina virtual integrando a RISC-V à arquitetura original do ambiente de programação, sem causar atritos com os contratos existentes ou os desenvolvedores atuais. A proposta inclui até o uso de máquinas virtuais paralelas, permitindo que o sistema atual e a RISC-V rodem simultaneamente — embora também existam abordagens mais radicais, ou até uma rota intermediária, criando um recurso explícito de protocolo para isso: a introdução do conceito de um “interpretador de máquina virtual”, com sua lógica escrita em RISC-V.
Outro ponto interessante é que a Ethereum, como outras blockchains, não é uma entidade privada tradicional, mas sim um projeto descentralizado. Isso significa que, mesmo que um de seus cofundadores apoie determinada direção, a governança é colaborativa, com a comunidade responsável por debater, aprovar e implementar mudanças.
Em Resumo
Ainda é cedo para prever quaisquer consequências para a rede Ethereum — quanto mais para o mercado de blockchain como um todo —, mas é evidente que essa proposta é mais um sinal da crescente relevância da RISC-V no futuro da Web3 e de um espaço que busca aproveitar os avanços já feitos no desenvolvimento tradicional de software.
Pioneirismo no Mercado Web3
O cofundador da Ethereum não é o primeiro a reconhecer a relevância da RISC-V como uma arquitetura simples e eficaz que permite maior integração entre desenvolvedores e blockchain. A Cartesi já oferece, desde 2018, uma implementação madura, estável e determinística da RISC-V com sua Cartesi Machine, fornecendo um vislumbre de como pode ser um mercado Web3 mais integrado — que se conecta com tecnologias existentes e oferece compatibilidade retroativa e futura.
Nas palavras de Erick Moura, cofundador da Cartesi, o objetivo principal é integrar o antigo com o novo:
“Quando começamos a Cartesi em 2018, nos perguntamos como tornar o blockchain popular entre os desenvolvedores. A resposta foi simples: abraçar décadas de inovação em software, e não ignorá-las.”
Ele vai além, comparando a adoção inicial de um único protocolo da internet com a potencial unificação das máquinas virtuais blockchain em torno da RISC-V:
“Na evolução da infraestrutura digital, o princípio end-to-end sugere que a adoção massiva de um padrão mínimo tende a impulsionar o crescimento. Para a internet, esse padrão foi o IP. Para o blockchain, pode ser a RISC-V.”
As bases foram lançadas, e até agora, a RISC-V tem sido vista como a resposta mais adequada aos desafios mais recentes da Ethereum — e os protocolos que já vinham apostando nela há alguns anos sentem que estão, agora, recebendo validação. Resta esperar os próximos capítulos — porque, em um ambiente descentralizado e competitivo como o Web3, um novo protagonista pode sempre surgir.
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