*Por Rocelo Lopes, CEO da SmartPay | Rezolve AI*
Recentemente, tenho refletido bastante sobre os desafios que surgem quando estamos construindo tecnologia de verdade. Em diferentes momentos, aparecem limitações aparentes entre o que uma carteira digital pode fazer, o potencial de uma API e aquilo que, à primeira vista, a própria blockchain parece não atender.
Em muitas conversas, internas e externas, escuto com frequência a palavra “barreira”. “Isso é uma barreira.” “Aquilo é problemático.” Mas existe algo curioso nesse tipo de afirmação: no momento em que alguém define algo como barreira, ela passa a existir. Não porque a tecnologia realmente não permita, mas porque a mente decidiu que aquele é um limite.
Desafios existem para serem superados. Não faz sentido falar em superação se não houver algo a ser vencido.
Foi nesse contexto que, durante um processo de meditação e análise sobre 2025 e sobre o que nos espera em 2026, uma imagem começou a surgir de forma recorrente: um cubo. Ele aparecia o tempo todo. Quanto mais eu pensava nos desafios do futuro, mais aquela forma se repetia. Em vez de tentar afastar essa imagem, resolvi entendê-la.
A palavra “cubo” vem do latim *cubus*, com raízes na Grécia Antiga, período em que a geometria começou a ser formalizada. Sua origem etimológica está ligada à raiz indo-europeia *keu-*, que significa “torcer” ou “virar”. Ao longo da história, o cubo foi estudado por pensadores como Platão e Euclides, atravessou o Renascimento com Leonardo da Vinci e Albrecht Dürer e se consolidou como símbolo de estabilidade, perfeição e domínio do espaço tridimensional.
Essa definição imediatamente me levou de volta a um episódio marcante do passado, por volta de 2018 e 2019, ainda na pré-era das APIs bancárias. Naquele momento, não existiam integrações em tempo real. Tudo era feito por meio de arquivos de lote. Ainda assim, decidimos fazer diferente. Desde o início, o desafio sempre foi mudar a forma como as pessoas interagem com criptomoedas.
Éramos um time muito pequeno, quatro ou cinco pessoas, desenvolvendo algo que simplesmente não existia no mercado. Enquanto todos seguiam o caminho tradicional, decidimos integrar Bitcoin diretamente à automação bancária, em tempo real, sem depender de processos manuais. Não porque era simples, mas porque era necessário.
Trabalhamos com um banco altamente eficiente em aplicações digitais, aqui chamado de Banco Laranja. Ele não oferecia integração formal, mas possuía um aplicativo funcional. A solução foi criar um robô que simulava ações humanas: clicar, pagar boletos, realizar recargas. Para clientes do mesmo banco, a liquidação da criptomoeda e a transferência aconteciam instantaneamente, 24 horas por dia. Para outros bancos, seguia-se o fluxo disponível na época.
Funcionou. Até que o banco evoluiu e introduziu um teclado virtual com posições aleatórias para autenticação. Para muitos, aquilo seria o fim. Para nós, era apenas mais um desafio. Criamos uma solução com uma câmera mapeando a tela, identificando a posição do teclado virtual e digitando a senha a partir dessa leitura visual. Sem interferir diretamente no sistema. Desafio superado.
Depois veio o segundo fator de autenticação por e-mail. Integramos. Em seguida, o SMS. Instalamos uma placa específica no servidor para capturar as mensagens. Mais um desafio superado.
Até que surgiu algo considerado, por muitos, intransponível: um dispositivo físico gerador de códigos — o que hoje se chama genericamente de token. Um desenvolvedor da equipe afirmou que ali não havia mais saída. Que era impossível. Foi naquele momento que ficou claro que a palavra “impossível” não faz parte do vocabulário de quem constrói inovação.
Reunimos o time e pensamos diferente. E se abríssemos o dispositivo? E se mantivéssemos o token constantemente alimentado? E se colocássemos uma microcâmera lendo os dígitos gerados, gravando essa informação em um arquivo que o servidor pudesse interpretar? Chamamos um especialista em eletrônica. Algumas semanas depois, ele voltou com um objeto: um cubo.
Dentro daquele cubo, desmontamos o token, instalamos a câmera, criamos um ambiente completamente escuro para garantir a leitura por OCR. O cubo lia os números, gravava o código, o servidor capturava e finalizava a autenticação. Funcionou. Funcionou tão bem que, em um teste presencial, até uma gerente do banco ficou sem entender como aquela transação era possível. Nunca explicamos. Apenas fizemos acontecer.
O cubo que surgiu repetidamente na minha meditação não era coincidência. Ele é um lembrete. A raiz da palavra fala em torcer, virar, inverter. Foi exatamente isso que fizemos: viramos a tecnologia de ponta-cabeça para encontrar soluções onde só enxergavam barreiras.

Olhando para 2026, minha visão é simples e direta. Barreiras não existem. O que existem são soluções melhores, mais criativas e mais viáveis, esperando para serem construídas. Tecnologia não nos vence. Nós escolhemos pessoas que querem vencer a tecnologia.
O cubo que está no nosso escritório não é um troféu. Ele é um símbolo. Um lembrete diário de que o impossível é apenas uma falta de imaginação temporária. E de que, enquanto houver desafios, sempre haverá um cubo a ser resolvido.
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