Apesar disso, Mercedes anunciou suspensão do acordo com a FTX
Assim como tem acontecido em todo o ramo de esportes, as empresas de criptomoedas também dominaram as escuderias de Fórmula 1. E neste final de semana, no Grande Prêmio São Paulo, que acontece em Interlagos, será possível ver sete marcas distintas em dez companhias que correm a modalidade.
São elas: Crypto.com (Aston Martin e a F1), Velas (Ferrari), Binance (Alpine), Bybit (Red Bull), OKX (McLaren), Lif3.com (AlphaTauri), Aximtrade (Alfa Romeo). Até essa quinta-feira, 10, eram oito, mas a Mercedes anunciou a suspensão do acordo com a FTX. Em comunicado divulgado já no Brasil, a equipe comunicou a remoção da marca da asa traseira do W13.
A exchange, sediada nas Bahamas, teve sua falência decretada após entrar em turbulência graças a um relatório divulgado na última semana que alegou a existência de um fundo de hedge de propriedade da empresa que detinha bilhões de dólares em moeda própria da FTX, a FTT, e que era usado como garantia em outros empréstimos. Além da Mercedes, Haas e Williams não possuem patrocínios deste tipo.
Alguns desses acordos são recentes, como da Red Bull e Ferrari, anunciados ainda no primeiro semestre. Já a Crypto.com, considerada uma das principais exchanges deste setor, tem acordo de patrocínio para as corridas de F1 em Miami.
“O segmento cripto investiu pesado no esporte e elevou a barra de valores, pagando valores acima do que o mercado pagava. Independente da volatilidade desse mercado, acho que por ser muito jovem ainda, vai passar por muitas oscilações e até uma espécie de seleção natural. Cabe às equipes patrocinadas fazerem suas diligências prévias e terem cláusulas de contrato que as protejam”, afirma o especialista em novos negócios Armênio Neto, responsável por negociação de contratos envolvendo marcas, empresas e clubes.
Apesar dos contratos serem de confidencialidade, calcula-se que os acordos feitos por essas empresas, somadas às premiações, superem facilmente a casa dos bilhões. Prova disso é o contrato da Red Bull com a Bybit, consideradio o maior da história da modalidade e estimado em US$ 150 milhões.
Quando anunciado o patrocínio, a Bybit declarou que a popularidade do esporte tem crescido em escala mundial e que a meta era atrair esse público, estimado em atingir a marca de a marca de um bilhão de fãs em todo o mundo em 2022.
Isso tem a ver, também, com o lançamento da série Drive do Survive, da Netflix. A Liberty Media, grupo de mídia que é detentor dos direitos midiáticos da Fórmula 1, estima que nos dois últimos anos de 2019 e 2020, mais de 800 milhões de usuários foram atingidos com a série, gerando um crescimento de 99%.
“Conteúdos originais ainda adicionam valor em uma cauda larga de receitas, que não se expira quando o evento acaba. Não à toa, a Netflix investiu mais de US$ 17 bi em novos conteúdos originais em 2022”, afirma Bruno Maia, Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento e sócio da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais para Web3 e Streaming, e produtor e diretor de séries audiovisuais na globoplay, como ‘Nos Armários do Vestiários’, e do filme ‘Romário – O Cara’ para HBO MAX (previsão de lançamento para 2023).
Públicos parecidos
A pergunta que fica é porque as exchanges se aproximaram das escuderias, e a resposta tem a ver com o fato de os jovens serem grandes defensores da criptomoeda, também relacionadas à explosão da série Drive to Survive, da Netflix, de acordo com executivos donos das empresas de cripto. Outro dado relevante veio de um estudo da consultoia Stilt, publicado neste ano, que apontou características comuns entre fãs da F1 e do consumo de criptomoedas, principalmente relacionado a idade.
O fato é que a audiência vem crescendo com a Fórmula 1. Em 2021, totalizou US$ 2,14 bilhões, um aumento de 87% em relação ao ano anterior. O Grande Prêmio de Abu Dhabi, realizado no final da última temporada, foi assistida por 108,7 milhões de pessoas
“É evidente a dissolvição do interesse dos mais novos. O tempo está passando e as gerações mais jovens não estão esperando o automobilismo, o futebol ou qualquer outro esporte resolver esse problema. O sucesso do entretenimento passa pela possibilidade de o consumidor poder escolher o que deseja assistir, um modelo já incorporado pelas novas gerações e diferente do responsável por popularizar o futebol”, complementa Bruno Maia.
Apostas também crescem
Em meio ao crescimento da modalidade, outra esfera que é bastante atingida neste período são as plataformas de apostas. Mesmo com menos datas no calendário, as provas da Fórmula 1 atraem uma quantidade razoável de apostadores, a maioria deles bastante fiéis à modalidade.
“Embora o público brasileiro ame futebol e concentre uma enorme quantidade de apostas nesse esporte, a Fórmula 1 tem um público muito fiel e isso é observável nas apostas, especialmente quando se leva em consideração que acontecem muito menos eventos da modalidade em uma temporada que, por exemplo, jogos de basquete, futebol ou vôlei. E mesmo com o fato de já termos a definição do piloto campeão diminuir potencialmente o interesse do público no evento, a prova brasileira aumenta a importância da corrida para o público local”, explica Ricardo Bianco Rosada, CMO do galera.bet.
De acordo com números de outra empresa de casa de apostas, a Esportes da Sorte, a F1 é a quinta maior modalidade em número de apostas, atrás apenas do futebol, vôlei, basquete e tênis. Além disso, é possível constatar um aumento significativo quando a prova é realizada no Brasil.
“A mídia em cima do GP Brasil é muito impactante e leva os apostadores a procurarem muito mais a modalidade. Consultando dados retroativos a 2021, identificamos que o GP Brasil teve uma procura 100% maior do que qualquer outro GP da temporada passada. E o que constatamos e pode ser frisado é que a Fórmula 1 tem interesse crescente entre os apostadores brasileiros, mantendo uma média de mais de 10% de acréscimo mensal (sempre em comparação ao mês anterior)”, revela Daniel Trajano, diretor comercial da Esportes da Sorte.
Apesar deste crescimento no volume de apostas para esse ano, os executivos deixaram claro que não é possível constatar se a famosa série Drive to Survive, do Netflix, tenta contribuído para isso no Brasil.
“Não conseguimos estabelecer essa relação entre a série e o aumento das apostas, pois vários outros fatores, entre 2018 e o ano presente, 2022, podem ter contribuído para esse aumento”, aponta Daniel Trajano.
“No Brasil, é difícil fazer essa constatação porque, além de ser um mercado muito jovem em relação a apostas esportivas, trata-se de um público que, há décadas, acompanha fielmente a Fórmula 1. O que se percebe no exterior, contudo, é um aumento relativo do interesse pela modalidade após o seriado. Em alguns países, como Inglaterra e Estados Unidos, o esporte ganhou novos fãs – e, portanto, novos jogadores – após o seriado”, complementa Ricardo Bianco Rosada.