Texto por Fernando Bender
O mercado de dívida americano é um dos mais estruturados do mundo. É possível adquirir títulos de dívida emitidos pelo Tesouro americano com vencimentos de 3 meses a 30 anos. São os títulos mais negociados no mundo, e utilizados por outros países como reservas cambiais e por bancos como garantias de empréstimos overnight.
Como o rendimento de um título e o seu valor à vista estão relacionados, o mundo inteiro presta atenção na decisão do Federal Reserve, banco central americano, que fixa o rendimento dos títulos que vencem em até 3 meses (ponta curta).
Ontem estes juros sofreram um corte de 50 pontos base, ou da banda de 5.25% a 5.50% a.a para 4.75% a 5.00% a.a. Por que isso ocorreu?
O governo não gosta de uma recessão ou queda no mercado de ações em ano de eleições. A economia americana reduziu bastante o desemprego nominal. Na verdade, estão substituindo vagas de turno integral pelas de meio turno, onde cada qual conta como 1 emprego. Assim, um desempregado de turno integral que passe a trabalhar em dois locais distintos, agora conta como 2 empregos.
Quem está desempregado além de 3 meses (ou 6, dependendo da metodologia utilizada) é excluído da força de trabalho, e não conta como desempregado. Mesmo assim, o índice de desemprego subiu quase 100 pontos base nos últimos 20 meses. Embora essa alta ainda não tenha afetado a economia, o mercado de renda variável vive do futuro.
O gráfico acima ilustra os últimos 43 anos de desemprego e PIB nos EUA, trimestralmente. Em branco, a taxa de desemprego é comparada com a variação anual do PIB, em laranja. Seu eixo vertical está invertido, de forma que quando a curva em laranja sobe, o PIB cai. Destacamos com retângulos semi transparentes algumas regiões onde o PIB cai (curva em laranja sobe) e o desemprego aumenta. São períodos onde ocorreu recessão nos EUA. Então, pelo que nos ensinam os últimos 40 anos, em recessão, o PIB cai e o desemprego aumenta. Neste caso, reduzir os juros faz sentido.
A redução de juros pode estimular a economia, viabilizando empréstimos, mantendo a atividade econômica. Só que não.
As maiores empresas americanas têm tomado empréstimo para financiar a recompra de suas ações, valorizar as opções de compra destas e distribuir bônus aos executivos e dividendos aos acionistas. Isto nada tem a ver com a economia real.
Os principais bancos americanos têm em seus balanços títulos do tesouro americano que perderam 10% a 20% aproximadamente de valor com esta alta de juros, por não haverem feito proteção contra este risco (hedge). A redução nos juros valoriza estes títulos e reduz suas perdas ainda não realizadas.
O movimento na arena macroeconômica é trimestral, logo do dia para noite temos nada além de ruído. Nosso palpite é que a história há de se repetir com ou sem rima. O ponto é se já estamos lá. O barril de petróleo, como apontamos no último artigo, é o divisor de águas que corta pela cortina de fumaça do noticiário financeiro.
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