No ano de 2023, a Comissão do Senado discutiu a crise na pesquisa científica brasileira,
que apresentou baixos resultados e a fuga de cérebros. O desenvolvimento científico no
Brasil enfrentou uma crise significativa, evidenciada por uma queda de 7,4% na produção
científica em 2022 em relação a 2021. Com isso, o investimento em pesquisa caiu de 1,21%
para 1,14% do PIB entre 2019 e 2020, contrastando com os mais de 3% dos EUA,
Alemanha e Japão, e mais de 2% da China e Reino Unido.
Para competir com economias mais desenvolvidas, o Brasil precisaria investir pelo menos
2% do PIB, segundo Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da Universidade Federal de
Minas Gerais. Uma proposta de emenda constitucional, apresentada pelo senador
Astronauta Marcos Pontes, sugere aumentar o investimento em ciência e tecnologia para
2,5% do PIB até 2033.
Gabriel Leal, CEO e fundador da Psyche Aerospace, startup aeroespacial que desenvolve
soluções para o agronegócio brasileiro, faz uma avaliação do atual cenário no setor: “Isso
explica a fuga de cérebros que estamos vendo. Com menos investimento em tecnologia de
ponta e inovação, é natural que nossos melhores pesquisadores busquem oportunidades
em outros países. Se o Brasil não aumentar o investimento em ciência e tecnologia, vamos
continuar perdendo talentos e ficando para trás.”
A situação é corroborada pelos dados disponíveis no Portal da Transparência, que mostram
uma queda contínua no orçamento para ciência e tecnologia desde 2019. Em 2023, o
orçamento foi insuficiente para cobrir as necessidades básicas dos centros de pesquisa,
comprometendo projetos essenciais e a manutenção de infraestruturas científicas. Essa
realidade reflete uma grave falta de prioridade política em relação à pesquisa científica, o
que, por sua vez, tem implicações diretas para a inovação e o desenvolvimento econômico
do país.
Leal comenta que o problema não é a “fuga de mão de obra” nem o número de pessoas,
mas sim a falta de investimento. “Acredito que a quantidade de mão de obra aqui no Brasil
não é uma dificuldade, mas ela para desenvolver algo novo, sim. O Brasil tem potencial e
não desenvolve. Temos muita gente boa, o problema é fazer com que os profissionais
queiram aceitar novos desafios aqui. A gente tem recurso.”
A crise no setor científico no Brasil é amplificada por uma década de cortes orçamentários
severos. Segundo dados recentes da Câmara dos Deputados, o orçamento destinado à
pesquisa científica e tecnológica perdeu mais de R$80 bilhões nos últimos sete anos. Este
declínio é um reflexo direto da redução sistemática nos investimentos públicos, que
culminaram em uma perda significativa para áreas críticas da ciência e tecnologia. O
impacto desses cortes não apenas comprometeu a capacidade dos centros de pesquisa a
desenvolverem novas tecnologias e inovações, mas também desestimulou talentos
promissores e levou a um êxodo de cientistas para outros países.
O CEO e fundador ainda adiciona: “Aqui no Brasil temos uma grande riqueza intelectual;
tudo depende do que vamos querer fazer com ela. Por exemplo, eu quero fazer um drone
ou uma automação, algo mais prático, sem entrar muito no âmbito da pesquisa avançada e ciência. É algo muito específico e que o mundo está investindo. O Brasil dá conta disso
tranquilamente.”
Após um recorde histórico de emigração de cientistas, especialistas apontam que o país
precisa urgentemente reformular sua política de investimento em ciência e tecnologia para
reverter esse quadro. Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho, mestre e doutor em Direito do
Trabalho pela Faculdade de Direito (FD) da USP, destaca que a atual crise de talentos é um
sintoma de um problema estrutural mais amplo que só pode ser solucionado com uma
revisão significativa nas prioridades orçamentárias e políticas de incentivo à pesquisa. “Se
mensuramos o salário em dólares ou euros, eles são bem mais altos [que os em reais, no
Brasil], embora o custo de vida em uma capital estrangeira precise ser levado em
consideração, dependendo do país, é possível economizar em outros pontos, como
educação e saúde pública de qualidade”, diz o especialista.
Gabriel completa: “No Brasil, oferecer uma oportunidade a um engenheiro que trabalha há
anos em uma empresa e ele aceitar é um obstáculo. O brasileiro é resistente a novos
desafios e tende a pensar que está no auge de sua carreira, em outros países, como os
Estados Unidos, as pessoas geralmente não optam pelas grandes companhias e migram
para startups que estão sendo fundadas e possuem um espírito maior de liberdade para
criar.”
Para reverter a atual crise e estimular a inovação, o Brasil necessita aumentar o orçamento
para pesquisa científica e criar condições favoráveis para a retenção e atração de talentos.
“Precisamos urgentemente de políticas que incentivem a pesquisa e que facilitem a
interação entre universidades e empresas. Caso contrário, vamos continuar vendo nossa
ciência e nossa capacidade de inovação diminuírem”, finaliza Leal.
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